Ferreira Leite diz que obras públicas só reduzem desemprego de Cabo Verde ou Ucrânia
A presidente do PSD declarou que a aposta do Governo nas obras públicas pode ajudar a reduzir o desemprego em Cabo Verde ou na Ucrânia, mas duvida que tenha efeitos no emprego em Portugal. A líder do principal partido de oposição afirma ainda que abandonaria o TGV e construiria o novo aeroporto de forma faseada.
Em entrevista ao jornal "Diário de Notícias" e à rádio TSF divulgada hoje, Manuela Ferreira Leite sustentou que a aposta nas obras públicas não vai fomentar o crescimento do país.
Interrogada se não considera que "as obras públicas ajudarão, pelo menos, ao factor desemprego", a presidente do PSD respondeu: "[Ao] desemprego de Cabo Verde, desemprego da Ucrânia, isso ajudam. Ao desemprego de Portugal, duvido".
"Nós temos jovens licenciados desempregados: não está a querer mandá-los para as obras públicas? Nós estamos com pessoas entre os 40 e 50 anos desempregados, [que eram] empregados administrativos", apontou.
De acordo com Manuela Ferreira Leite, "uma política dirigida às obras públicas evidentemente que é boa para as empresas de obras públicas, está fora de causa, é boa para empresas de consultadoria, para escritórios de advogados", mas "não é fomentadora de emprego".
"A estrutura económica do país está na base das pequenas e médias empresas e é aí que se está a criar o emprego, é aí que se defende o emprego", advogou.
"Eu não sou contra as obras públicas, como às vezes se pretende dizer -- sou contra o facto de se pensar que a política de obras públicas é uma política de crescimento da actividade económica, porque não é", salientou a presidente do PSD.
Segundo Ferreira Leite, "as obras públicas podem e devem fazer-se com certeza, muitas têm de ser feitas, desde que não se pense que a política de obras públicas vai fomentar o crescimento do país, porque não vai".
Sobre as obras públicas que não faria, a presidente do PSD declarou: "Sou capaz, sem nenhum estudo, de dizer que não farei a terceira via auto-estrada Lisboa-Porto".
TGV nãoNo que respeita à alta velocidade, disse: "Se for confirmado que aquilo que se ganha no tempo de Lisboa-Porto for 20 minutos então não faço porque realmente não estamos em condições de entrar numa despesa de tal forma grande".
Sobre a ligação Lisboa-Madrid, Manuela Ferreira Leite ressalvou que desconhece os estudos e os encargos futuros, mas adiantou que "se é uma linha que não for rentável" tem "fortíssimas dúvidas" de que possa ser feita "só por uma questão de luxo".
A presidente do PSD frisou a sua oposição a "uma terceira via de auto-estrada Lisboa-Porto", referindo que não se refere "a uma terceira faixa de rodagem, mas a uma terceira via".
"Nós temos dinheiro para isso? Existe um ranking do número de quilómetros de auto-estradas em relação à riqueza do país. Em que lugar estamos? Estamos em segundo, em que o primeiro é o Canadá, portanto pode ver-se a loucura que nós andamos a fazer. Quando se quer investir ainda mais nessa loucura eu não preciso de estudos para dizer que loucuras nem vale a pena olhar para elas", declarou.
Sobre o novo aeroporto em Alcochete, Manuela Ferreira Leite afirma que "em democracia as decisões dos Governos devem ser respeitadas" e aproveita para avançar com uma sugestão em relação à construção em Alcochete: já que Alcochete foi a escolha, então que a construção do aeroporto seja feita de forma faseada, algo que a Ota não permitia, para que sejam respeitadas as possibilidades financeiras actuais do país.
PSD com Cavaco no Estatuto dos AçoresManuela Ferreira Leite esclareceu ainda que, apesar do PSD ter votado a favor do novo Estatuto de Autonomia dos Açores, que votou contra o artigo 114, em especialidade, que limita a acção do Presidente da República em caso de dissolução da Assembleia Regional. "O engenheiro Sócrates ainda não assimilou o que é o benefício de estar a governar com a cooperação do PR", disse, acrescentando que se a alteração não for feita, o PSD está preparado para pedir o envio do diploma para o tribunal Constitucional. mas sobre um outro artigo colocado em causa pelo Presidente, o 140, o PSD votou a favor na discussão na especialidade.
Contra o casamento gayA líder do PSD aproveitou ainda para esclarecer que nunca disse que o objectivo do casamento era a procriação, mantendo porém que consigo no Governo a união entre duas pessoas do mesmo sexo nunca se chamará casamento: "Quis dizer, e reafirmo, que a sociedade se organiza e confere determinado tipo de direitos e deveres à estrutura da família porque quer proteger, incentivar e patrocinar a procriação". Mas sobre a possibilidade de haver casamento homossexual em Portugal num Governo seu diz, peremptória: "Se depender de mim, não".