Vida humana está menos protegida do que meio ambiente, defende Igreja espanhola

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Os cartazes vão ser colocados em 37 cidades espanholas DR

A Igreja católica espanhola vai lançar uma campanha publicitária contra o aborto onde denuncia que o lince-ibérico está mais protegido do que os embriões humanos. A campanha é uma reacção à reforma que o Governo quer fazer à lei espanhola da interrupção da gravidez, permitindo a despenalização do aborto livre até às 14 semanas.

Até agora, só é legal abortar em Espanha se a saúde da mulher estiver comprometida, caso haja suspeita que o feto tenha alguma malformação ou quando a gravidez tiver sido consequência de uma violação. Anualmente em Espanha realizam-se mais de 100 mil abortos ilegais.

“Tirar a vida a uma pessoa é o atentado maior que se pode cometer”, disse o porta-voz da Conferência Episcopal Espanhola Juan Antonio Martínez Camino. No cartaz central da campanha pode-se ver um bebé ao lado de uma cria de lince ibérico com uma frase por cima que diz “Lince: protegido”. Por baixo da fotografia do bebé está escrita a frase “E eu? Protege a minha vida!”.

“Está certo que se proteja os animais em perigo de extinção, que se proteja a biosfera, mas juntamente com esta sensibilidade maior que temos que ter com a biodiversidade devemos reflectir acerca da necessidade de proteger pelo menos os seres humanos que vão nascer”, sentenciou o porta-voz, citado pelo jornal espanhol “El País”.

Vão ser colocados cerca de 1300 cartazes gigantes em 37 cidades espanholas, acompanhados por 30 mil posters e oito milhões de folhetos para distribuir por todo o país. A campanha foi já amplamente criticada por várias forças políticas.

O ministro espanhol da Saúde e Consumo, Bernat Soria, alegou que o caminho da Conferência Episcopal era diferente do caminho do resto da sociedade, defendendo que este passo na legislação vai de encontro ao que se faz nos outros países europeus, “esses países que continuamente dizemos que queremos parecer com eles”, citou o jornal espanhol. Soria sublinhou que neste momento o debate já não é “sim ao aborto, não ao aborto”, acrescentando que essa controvérsia foi vivida na Espanha há 20 anos.

Uma das questões mais polémicas na nova lei é permitir que adolescentes com mais de 16 anos possam escolher realizar o aborto sem necessitarem do parecer dos pais. Soraya Sáenz de Santamaría, porta-voz dos deputados do PP, partido de direita que se opõem à alteração da lei, alega que “haverá muitos poucos pais que estarão de acordo com esta medida” e acrescenta que a nova lei irá transmitir aos adolescentes “a mensagem errada” que o aborto “é um método anticontraceptivo”, diz no “El País”.

A campanha coincide com a Jornada da Defesa da Vida, que decorre no próximo dia 25 de Março e que este ano será marcada pelo debate. Segundo o porta-voz da CEE, a Igreja critica igualmente a selecção embrionária com fins terapêuticos. "Não se podem seleccionar crianças para viver e crianças para morrer", disse hoje numa entrevista à Rádio Nacional de Espanha, citado pela Lusa.

Camino rejeitou que a campanha pretenda atacar o governo e tem como único objectivo "consciencializar a sociedade para que pense sobre a necessidade de proteger a vida". O responsável da CEE manifestou-se igualmente contra a utilização do preservativo em África para o combate da SIDA por considerar que o uso deste método preventivo propicia a promiscuidade.

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