PS pisca o olho à esquerda e faz brilhar Inês de Medeiros e Vale de Almeida nas listas

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António Vitorino, coordenador do programa, nada quis dizer ontem Nuno Ferreira Santos (arquivo)

Políticas sociais, mais atenção à Cultura e casamentos gay: as ideias com que os socialistas vão a votos têm protagonistas a condizer. Mas no partido há feridas abertas

As escolhas dos independentes Inês de Medeiros e Miguel Vale de Almeida para lugares elegíveis nas listas do PS às legislativas parecem vir ao encontro de ideias fortes de José Sócrates para a campanha eleitoral: a aposta na Cultura, os casamentos gay e as preocupações sociais.

Depois de perder as eleições europeias, o primeiro-ministro reconheceu como um dos seus erros de governação ter dado pouca atenção à Cultura, deixando antever uma maior aposta no sector para o futuro. Essa é grande mais-valia de Inês de Medeiros. A actriz e realizadora foi mandatária de Vital Moreira nas europeias. No último comício da campanha, em Lisboa, fez um discurso político onde falou bastante de cultura, mas também de assuntos sociais e económicos, tendo sido fortemente aplaudida.

Já Miguel Vale de Almeida é o rosto perfeito para o debate em torno do casamento entre pessoas do mesmo sexo, prometido pelos socialistas para a próxima legislatura. O activista do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) é um defensor dessa bandeira desde os tempos em que era dirigente do Bloco de Esquerda (BE), do qual saiu em 2006 para se dedicar à causa da igualdade de género.

Ontem, no blogue Jugular, Vale de Almeida considerou a integração nas listas do PS como "um desafio de todo o tamanho": "Conheço os defeitos do nosso sistema partidário, das nossas instituições democráticas e do debate fulanizado em meios como a blogosfera e os media. Mas acabou o tempo do nicho confortável da oposição absoluta ou do remanso da observação à distância", escreveu.

Apoios sociais reforçados

A incursão do PS nas fileiras do BE não era suposto ficar por aqui. Joana Amaral Dias, bloquista de corpo inteiro, também foi convidada e para um lugar de destaque: ser a segunda da lista por Coimbra. A docente universitária recusou "por motivos óbvios", como disse ao PÚBLICO. "Embora o BE me tenha afastado da Mesa Nacional e, pelos vistos, dispensado das listas de candidatos a deputados, sou militante de base e defensora das ideias e projectos deste partido", acrescentou.

Foi sobretudo com base no reforço das políticas sociais que José Sócrates piscou o olho aos portugueses nas últimas semanas. A criação, na próxima legislatura, de um novo subsídio para as famílias que trabalham e têm filhos mas cujo rendimento per capita é inferior ao limiar de pobreza - andará à volta dos 406 euros por pessoa - foi a promessa mais popular apresentada neste período de pré-campanha.

A mesma batuta foi usada para a promessa de atribuição de bolsas de estudo para os alunos do ensino secundário. Quem quer estudar noutro país terá, diz Sócrates, mais apoio social no Erasmus. Sócrates acena ainda aos jovens com promessas de estágios: mil em instituições particulares de solidariedade social, cinco mil na administração pública para jovens à procura de primeiro emprego.

O verbo dar continua a conjugar-se na área da Saúde: a rede de cuidados continuados deverá cobrir todo o país em 2013 (em vez de 2016) e incluir 15 mil lugares; e o cheque-dentista deverá abranger, em 2013, todas as crianças e jovens dos quatro aos 16 anos - num total de 1,3 milhões de pessoas. Os socialistas voltarão ainda a apresentar o projecto de testamento vital.

As propostas na área da Economia são ainda muito vagas, incluindo um pacto para a internacionalização de PME de modo a que as exportações subam de 32 para 40 por cento do PIB.

Listas abrem feridas

Já as listas do PS às legislativas parecem desenhadas a régua e esquadro, sobretudo nos cabeças de lista: metade para membros do Governo, a outra para representantes de sensibilidades diversas, embora na sua maioria colaborantes de José Sócrates. As listas ficaram fechadas ontem à noite, na reunião da comissão política nacional, mas o fim do processo de escolhas não acaba com algumas polémicas.

No Porto, a votação da lista encabeçada por Alberto Martins e Teixeira dos Santos deverá motivar uma providência cautelar por parte da oposição interna à distrital dirigida por Renato Sampaio (ver caixa). É o caso mais extremo, mas Manuel Alegre também não está satisfeito com a ausência nas listas dos seus apoiantes da corrente de Opinião Socialista, a única tendência formal do PS, e da revista OpS!.

Ontem à noite, a comissão política nacional confirmou as escolhas dos membros do Governo: José Sócrates (Castelo Branco), Vieira da Silva (Setúbal), Ana Jorge (Coimbra), Luís Amado (Leiria), Pedro Silva Pereira (Vila Real), Jorge Lacão (Santarém) e Bernardo Trindade (Madeira).

Jaime Gama repete em Lisboa, António José Seguro em Braga, José Junqueiro em Viseu, Mota Andrade em Bragança, Carlos Zorrinho em Évora, Miranda Calha em Portalegre, Luís Ameixa em Beja e Ricardo Rodrigues nos Açores. Novidades são Alberto Martins (Porto), Maria de Belém (Aveiro), João Soares (Faro), Francisco Assis (Guarda), e Rosalina Martins (Viana do Castelo).

A reunião da comissão nacional para apresentação do programa eleitoral está marcada para esta manhã.

Notícia actualizada às 9h38
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