Khadafi lança na ONU duro ataque ao Conselho de Segurança

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Khadafi falou durante 95 minutos Shannon Stapleton/Reuters

O líder líbio, Muammar Khadafi, fez hoje a sua primeira intervenção na Assembleia Geral das Nações Unidas, após 40 anos no poder, e aproveitou o palco internacional para um longo discurso, durante o qual atacou o funcionamento do Conselho de Segurança, organismo que apelidou de “conselho do terrorismo”.

O coronel, durante anos um pária internacional, subiu ao palco depois do Presidente norte-americano, Barack Obama, que abandonou a sala logo após a sua intervenção, evitando qualquer encontro casual com o dirigente líbio. Mas Khadafi ainda fez os restantes dirigentes esperar durante cinco minutos antes de subir à tribuna.

Com um exemplar da Carta das Nações Unidas na mão, Khadafi denunciou a falta de igualdade entre os Estados-membros e acusou os países com assento permanente no Conselho de Segurança (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França) de violarem o texto fundador da organização: “O preâmbulo estabelece que todas as nações são iguais, sejam grandes ou pequenas”.

Envergando um tradicional robe castanho e com um pin com o recorte do continente africano ao peito, exigiu alterações profundas na arquitectura das Nações Unidas, alegando que a instituição falhou a missão para que foi criada e desde a sua fundação, em 1948, eclodiram “65 guerras” no globo.

“O Conselho de Segurança não nos deu segurança, mas terror e sanções”, alegou Khadafi, ele próprio sujeito a duras sanções internacionais após o atentado de Lockerbie, em 1988. Denunciando o facto de todos os membros permanentes serem potências nucleares, Khadafi acrescentou: “Não lhe podemos chamar Conselho de Segurança, mas conselho do terrorismo”.

A Líbia tem actualmente assento na instituição máxima das Nações Unidas, mas apenas num dos dez lugares não permanentes do Conselho, sem direito a veto sobre as decisões aí tomadas. Khadafi diz que este poder deve ser “anulado” – “o direito de veto é contra a Carta e nós não o aceitamos” – mas pediu um lugar permanente para a União Africana, de que é o presidente em exercício.

Por essa altura, o coronel tinha já excedido largamente os 15 minutos que lhe tinham sido atribuídos a cada interveniente, mas quando instado a concluir a sua intervenção pelo presidente da Assembleia (o antigo ministro líbio Ali Triki) Khadafi recusou, alegando que também Barack Obama excedera o tempo.

A intervenção – que não seguiu um guião pré-definido e abarcou temas tão distintos como as compensações devidas a África pela colonização europeia o assassinato de John F. Kennedy – só terminaria ao fim de 95 minutos. Não foi, ainda assim, o discurso mais longo da história da ONU, um recorde que continua a pertencer às quatro horas gastas em 1960 pelo líder cubano, Fidel Castro, na sua diatribe contra o imperialismo americano.

Mas a sua duração apanhou de surpresa as delegações que tinham abandonado a sala para evitar ouvir Khadafi, novamente no centro de uma polémica internacional depois de o seu regime ter recebido como herói Abdel Baset al-Megrahi, o único condenado pelo atentado de Lockerbie. Este foi, no entanto, um tema que o dirigente líbio evitou, numa clara intenção de não reacender um tema incómodo para as suas ambições de normalizar as relações com os Estados Unidos.

Enquanto Khadafi falava, cerca de três pessoas juntaram-se frente à sede das Nações Unidas para uma pequena manifestação de apoio ao “líder da revolução líbia” e “rei de África”, numa iniciativa convocada pela “Nação do Islão”. A curta distância, um grupo mais pequenos empunhava cartazes contra o líder líbio, numa manifestação em que estiveram presentes representantes das famílias das vítimas americanas do atentado de 1988.

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